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Rússia x Ucrânia

Curto&Grosso: A Rússia impõe censura, dissemina propaganda e memes pró-guerra, como o símbolo "Z". Memes ucranianos, como a Santa Javelin, mobilizam apoio global contra a invasão russa. Ambos os lados usam memes para propagar sua narrativa e ridicularizar o inimigo na "guerra híbrida".

Esqueça as balas. Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 2022, alguns especialistas classificam o confronto como uma “guerra híbrida”, pois o que está em jogo não é apenas o domínio sobre o território, mas também sobre valores e cultura. Agora, as armas são símbolos, ideologias e os poderosos memes que ecoam nos campos de batalha digitais.​
De onde vem os memes na guerra Russo-Ucraniana?

Considerando que, diferente da propaganda tradicional, a origem da grande maioria dos memes é obscura. Sendo assim, desvendar a atuação do governo russo na disseminação de memes, por exemplo, requer uma pesquisa multissetorial. A simples censura de memes anti-Rússia já exerce influência na atmosfera dessas expressões na rede, uma vez que apenas conteúdos específicos são permitidos.

Apesar disso, como os memes são classificados como Conteúdo Gerado pelo Usuário (CGU) na internet — sendo assim, “espontâneos” —, a nossa equipe de redação entrou em contato com três correspondentes russos e uma ucraniana para descobrir pistas de memes sendo usados em contexto de guerra.

Nesta reportagem, nenhum dos nossos entrevistados se sente confortável para expor o nome e sobrenome, então permitimos que inventassem um. Eles alegam que debater esses assuntos podem levá-los a problemas. Ressalta-se que as opiniões expressas nesta coluna não refletem obrigatoriamente a posição editorial.

Cão de guarda da mídia russa

Na fronteira entre o físico e o virtual, a Rússia redefine a guerra na Ucrânia. No maior país do planeta, você pode ser preso se quiser postar memes ironizando a ordem estabelecida. O Serviço Federal de Supervisão de Comunicações, Tecnologia da Informação e Meios de Comunicação de Massa, ou simplesmente Roskomnadzor, trabalha censurando a internet, enquanto aposta em propaganda. 

Símbolo do Roskomnadzor

A difusão da propaganda russa é tão bem trabalhada que seus braços exercem influência em outros territórios. Há diversos sites de notícias e informações fabricadas focados em servir todos os interesses russos. Um exemplo é o endereço pt.topwar.ru, que produz “notícias” em massa em português brasileiro.  Há títulos bem chamativos, como “Novamente, devemos derrotar todos rapidamente. Por que a lógica é mais importante do que as emoções na guerra?”. 

Todas as matérias têm comentários, mas é difícil saber se são bots ou pessoas reais. Alguns perfis são certificados pelo próprio Roskomnadzor.

Que pena! Atrás das grades por meme de uma galinha

Um exemplo de como os memes são controlados na Rússia foi a prisão do líder comunitário do Uzbequistão.

A montagem de uma galinha desvigorosa e depenada com um balão de fala foi o bastante para colocar a autoridade dos uzbeques na Rússia, Usman Baratov, na cadeia. A galinha diz: “Vá se catar com seus ovos! Traga de volta os galos da linha de frente”.

 

Fonte: topwar.ru

Usman foi acusado de “zombar” dos soldados russos nas redes sociais. O chefe do Comitê de Investigação Russo, Alexander Bastrykin, disse que ordenou um caso criminal contra Baratov a pedido de correspondentes de guerra russos, pois afirmaram terem se sentido ofendidos por essa imagem postada na página de Baratov, na rede social OK.RU, em dezembro de 2023.

No dia 19 de janeiro de 2024, o líder comunitário foi preso. O meme, em questão, satirizava a inflação ocorrida após a guerra, aumentando drasticamente o preço de diversos alimentos, principalmente alguns que anteriormente eram considerados baratos, como os ovos.

Rússia paz e amor

Vladimir Vodka* (36), nascido e criado em Ecaterimburgo, principal centro industrial e cultural do Distrito Federal dos Urais, relata que, no início da guerra, estava bastante assustado, mas com o passar do tempo, virou “parte da vida” e “a mídia sempre mostra destruição do inimigo, a ponto de não mais chocar”, explicou.

O russo não quis revelar com o que trabalha, mas contou que faz parte do seu ofício viajar longas distâncias. Durante a entrevista, ele estava saindo de Ecaterimburgo, na parte mais oriental da Rússia, para Vladivostoque. 

Ao questionado, ele disse quase não haver memes em seu país, mas que a maioria são sobre Putin, Aleksandr Lukashenko (presidente da Bielorrúsia), e a letra “Z” como um símbolo pró-Rússia. Segundo Vladimir*, todos os memes estão concentrados no VK, rede social mais popular e mais frequentada atualmente na Europa Oriental, com um acesso de 33 milhões de usuários diariamente.

Em relação aos memes sobre a Ucrânia, o russo relata que eles simplesmente não existem, pois o seu povo adora os ucranianos e os querem bem.

 

“Os russos, num contexto geral, têm um apreço pelos ucranianos e desejam que esta guerra acabe. No entanto, por conta da propaganda anti-russa na Ucrânia, é comum observar um sentimento de aversão dos ucranianos em relação aos russos”
Vladimir*

Assim, Vladimir tenta convencer, fornecendo seu ponto de vista, de que a internet russa é muito mais livre do que se imagina, e que não há termos ou expressões depreciativas em relação aos ucranianos. No entanto, ele ri e menciona a palavra “khokhol”, que segundo ele, é uma terminologia neutra usada para se referir aos homens ucranianos.

Nika* (25), ucraniana, discorda dessa suposta neutralidade. Segundo a Enciclopédia da Ucrânia, o termo em russo é usado de forma pejorativa para descrever os ucranianos. A palavra quer dizer o estilo de um tufo de cabelo usado pelos cossacos, chamados oseledets. Os cossacos usam esse bigode específico e chub (uma mecha de cabelo brotando do topo ou da frente de uma cabeça raspada). Acredita-se que eles herdaram isso de seus antepassados pagãos. 

FOTO: Wikimedia Commons

No século XX, alguns ucranianos se apropriaram do termo de forma positiva, mas segundo Nika, hoje em dia o termo é usado por ucranianos de maneira depreciativa para se referir aos cidadãos “russificados”. 

Dos tanques para as telas: a letra Z é russa!
FOTO: Wikimedia Commons

Símbolos pró-guerra como o “Z” agem mais do que um meme, pois também servem como lembretes contínuos do amplo aparato estatal do Kremlin. Petrovich*, admirador das ações militares de Putin, afirma que esse é o maior meme russo, assim como relatou Vladimir*. Ele comentou que a letra, outrora obscura, surgiu nos tanques russos e agora é uma forma abreviada de endossar os objetivos de Moscou, com sua disseminação facilitada pelas autoridades e a “mídia leal”. “Se quer saber, esse é o maior símbolo russo de guerra, sendo usado em qualquer lugar”, destaca.

FOTO: Wikimedia Commons

Ele relata que “todos os russos reconheceram que, com a proeminência de memes militaristas, como o símbolo ‘Z’, amplamente difundidos nas redes sociais e na internet russa, o ímpeto da guerra atualmente parece inevitável.” Independentemente de suas opiniões sobre a validade da guerra, Petrovich* e Vladimir* acreditam que o conflito está atualmente enraizado no ciberespaço e na vida pública russa pela visível propagação de memes pró-guerra, sendo difícil um cessar-fogo nos próximos anos.

Segundo o site National Public Radio, o surgimento do meme “Z” exemplifica tanto a reconstituição militar russa desde seu ponto mais baixo na década de 1990, quanto a maneira como a imagem é utilizada como arma para criar consenso para um conflito contínuo. 

FOTO: 2ch.hk
Uma guerra contra o… nazismo?

Petrovich* e Vladimir* afirmam que, na Ucrânia, os memes amplamente compartilhados sobre a guerra usam propaganda nazista. Entretanto, há uma contradição notável em relação às respostas sobre a relevância desses símbolos. Ambos reconhecem que memes nazistas são preocupantemente comuns na Ucrânia, sendo um ponto explorado na propaganda estatal russa, que acusa a Ucrânia de ser um regime fascista. 

Contrapondo esses pontos de vista, Alexander* (42), um comunista russo, destaca que a retórica pré-guerra criticava a Ucrânia por abrigar nazistas. No entanto, “após mais de dois anos no conflito sangrento, observa-se o surgimento de exemplos de comportamento fascista semelhante dentro da própria Rússia, impulsionados pelo nacionalismo exagerado do Kremlin”, defende o comunista.

Vladimir* contou-me do meme da Marichka. Trata-se de uma personagem feminina no estilo dos animes japoneses, concebida como uma representação antropomórfica do Regimento Azov, um grupo neo-nazista e ultranacionalista paramilitar controverso que luta a favor da Ucrânia contra as forças separatistas pró-Rússia e o imperialismo russo.

Fonte: @archirai em Danbooru

Segundo Vladimir*, Marichka é usada para zombar de russos e disseminar ódio. Como prova, ele exibe o meme dessa mulher zombando de uma russa ao estreitar os olhos, dizendo “Bolchevique de olhos estreitos”, enquanto a russa chora, suplicando “Por favor, pare pelo amor de Deus”.

FOTO: Divulgação

Nika* (25), ucraniana, questiona a popularidade da Marichka e diz que nunca ouviu falar desse meme. Ao mostrar-lhe o meme em que a personagem zomba ucranianos, a ucraniana explica que não parece se tratar de um meme de seu país, pois a imagem mistura ucraniano e russo, algo possível devido à proximidade dos dois idiomas. Consultando o Google Tradutor como ferramenta, é possível averiguar que, de fato, o meme pode ser traduzido nas duas línguas.

Traduzimos um de seus depoimentos sobre a Marichka:

Em relação à prevalência de grupos neonazistas na Ucrânia, Nika foi taxativa ao dizer que há minorias nazistas em quase todo lugar do mundo, mas isso não significa que outro país deva invadi-lo.

Sobre os memes zombando russos, ela diz que até existem, mas acredita que a maioria é fabricado pela Rússia e o que é mais preocupante é a existência de ucranianos “russificados” em território ocupado que ridicularizam seu próprio povo, sobretudo com memes.

Ela relatou que conversou com cidadãos das cidades Donetsk (em parte ocupada), Mariupol e Kherson. 

Quem não pula é moscovita!

Vídeo postado em 26 de nov. de 2013 pela Dozhd, também conhecida como TV Chuva,  um canal de televisão independente russo. Reporta um protesto de ucranianos após a União Europeia  não aceitar o país no bloco.

Petrovich* endossa a argumentação de Vladimir* ao contar que desde o Euromaidan, também chamado de Primavera Ucraniana, entre 2013 e 2014, fortaleceram-se certos memes anti-russo, em especial o “Хто не скаче, той москаль”, que do ucraniano significa “quem não pula é muscovita”. É um canto que se difundiu e popularizou a expressão “moscovitas”, que para o russo, é “quase um termo oficial para expressar um sentimento de desdém aos russos”.

Arsenal memeal da Rússia

A ucraniana Nika*, que também sabe russo, compartilha alguns memes anti-ucrânia ou que beneficiam a imagem do presidente Vladimir Putin nas redes sociais VK e Pikabu, famosas no mundo eslavo, e no Dvach, similar ao fórum 4chan, que se baseia na postagem de imagens e textos. 

Não é difícil encontrar esses memes. Palavras-chave como Политика e мем (“Política” e “meme”, respectivamente) revelam uma variedade de conteúdos que dialogam com o contexto de guerra.

Vladimir*, Petrovich* e Alexander* também tiveram acesso aos memes coletados e dialogaram sobre o significado por trás de cada um deles. Com a triagem das informações, utilizando ferramentas como o Google Tradutor e repostas de usuários em comunidades como o Reddit, é possível exibir a você, leitor, o significado por trás das imagens.

Começaremos pelos pró-Putin:

(1)
(2)
(3)
(4)

Explicação:
(1) Propaganda viral pró-Putin divulgando suposta medida de redução de preços, devido à inflação;
(2) “Putin é o Deus dos ucranianos. Todos eles pensam nele”;
(3) “Vida longa ao Putin! Deus esteja com o senhor”;
(4) O meme questiona a liberdade americana ao sugerir que um presidente não pode ter cinco mandatos.

Os memes depreciativos contra a Ucrânia e seu povo também acessíveis na internet eslava:

(1)

(1) O texto descreve a tentativa de integrar ucranianos na cultura russa ao ensiná-los a “usar talheres e cozinhar borscht”, mas eles acabam incorporando elementos culturais da Europa Ocidental e protesta para ser como um deles. No meme, ucranianos são representados por um porco carimbado pela sigla dos Estados Unidos (USA).

(2)

(2) O meme zomba o exército ucraniano de fraco.

(3)

(3) Está escrito algo como: “Não é palhaçada, querido, é a titia Ucrânia maluca”.

Os memes contra o presidente Vladimir Putin são os mais difíceis de rastrear, mas eles existem! Alguns também criticam decisões do governo, como a invasão russa na Crimeia, território ucraniano.

 Esse meme, surgido no Dvach satiriza o sistema eleitoral viciado da Rússia, em que só o Putin é eleito.

Em toda a internet russa, é comum ver os “Bots do Kremlim”, ou simplesmente “KremlimBot”. São robôs criados pelo Roskomnadzor. Quando os internautas percebem o ambiente artificial, usam variantes do meme “Xô, KremlimBot!”, como exibido abaixo. É usado para indicar que determinado não parece fidedigno. 

Fonte: VK.com
Fonte: VK.com
Fonte: VK.com

O meme acima pode ser traduzido com facilidade pelo serviço de tradução de imagem do Google:

Foto: Divulgação
Um meme que viajou o mundo: a santa armada da Ucrânia
Fonte: Pixabay

Na iminência do conflito que se iniciou em 2022, com mais de 100.000 tropas russas na fronteira ucraniana, o jornalista Christian Borys, mergulhado em suas raízes polonesas-ucranianas, rastreou de perto a crise. O que mais lhe inquietou foi perceber que memes russos estavam bombardeando toda a internet com propaganda. Isso levou Borys a criar a Santa Javelin, uma icônica figura religiosa moderna vestida nas cores da Ucrânia, empunhando não um símbolo sagrado, mas um sistema antitanque Javelin fornecido pelos Estados Unidos da América.

A imagem que desencadeou o surgimento de Saint Javelin veio de um lugar improvável: uma obra de arte irreverente americana. Lá em 2012, o artista Chris Shaw criou “Madonna Kalashnikov”, apresentando a figura da Virgem Maria empunhando um rifle. Essa mistura intencionalmente absurda de iconografia católica piedosa com armamento moderno inspirou Borys, pois o estilo de Shaw, que mescla alegoria religiosa com equipamento militar contemporâneo, estabeleceu a base para o simbolismo de Saint Javelin. No início do conflito contra a Rússia, a Ucrânia precisava desesperadamente dos modernos mísseis anti-tanque Javelin dos Estados Unidos para repelir os tanques. Por isso, Borys adaptou a ideia original de Shaw, substituindo o Kalashnikov por um lançador de Javelin de ombro, transformando a Madonna em uma guerreira-santa moderna.

Ao imprimir os primeiros adesivos de Saint Javelin, Borys buscava inicialmente arrecadar fundos para apoiar famílias de soldados ucranianos caídos. A ideia, porém, ressoou globalmente. À medida que a Rússia atacava cidades, postagens de Borys no Instagram viralizaram, mobilizando voluntários para atender à demanda mundial por adesivos. Impressionado com histórias de refugiados e jornalistas arriscando a vida, Saint Javelin redirecionou seus esforços, fornecendo ajuda militar e médica diretamente a grupos ucranianos. Com informações do site O Globo, em 20 de abril de 2022, a Santa conseguiu arrecadar mais de R$ 7 milhões, impactando diretamente o desenrolar da guerra.

Por sorte, a camiseta de Saint Javelin alcançou status de ícone quando o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky a usou, impulsionando ainda mais a plataforma e os fundos para a defesa da Ucrânia.

Esse meme, transcendendo fronteiras e causas, mantém sua força viral, aparecendo em jogos, impressões 3D, grafites e manifestações desde a Venezuela até Taiwan. A Santa tornou-se um emblema global de resistência e coragem, motivando apoiadores a permanecerem firmes com a Ucrânia até a vitória.

A ucraniana Nika* relatou que reconhece o sentimento de muitos ucranianos ao verem a figura icônica da Javelin, apesar de não lhe provocar muita emoção.

Cão salva-vidas dos ucranianos

Em meio a tantos memes que emergem durante a guerra, mudando todo o tempo, Nika* diz que os ucranianos têm um em especial que ajuda seus soldados e é uma sensação em seu país: o cachorro terriê Patron, da raça Jack Russell.

Segundo o site KnowYourMeme, o Patron (ucraniano: Патрон), é um cão farejador de bombas e mascote do Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia. Após o início da invasão russa de 2022 na Ucrânia, o cachorro se tornou um viral nas redes sociais, sendo posteriormente tema de memes e fanart, nos quais é frequentemente elogiado por manter as pessoas seguras e vivas durante a guerra.

FOTO: KnowYourMeme

O Patron é tão amado que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, entregou-lhe uma medalha em oito de maio de 2022, ao lado do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.

Nika* relata que há uma música “chiclete” que geralmente acompanha o meme, chamada пес патрон, пес патрон (“Cão Patron, cão Patron”). Para exemplificar, Nika* compartilha um TikTok do Patron: 

@patron__dsns Вже зацінили нову пісню про мене? Мені таак сподобалась! #песпатрон #патрондснс #славаукраїні ♬ Pes Patron - KARTA FAN

O meme é tão querido que se popularizou ainda mais ao criarem um desenho animado infantil do Patron, que recebe apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e do Fundo de Emergência Internacional para Crianças das Nações Unidas (UNICEF).

FOTO: PatronTheDog no YouTube
Menos guerra, mais memes do bem

A paz entre as duas nações do Leste Europeu parece improvável de acontecer em breve. Em dezembro de 2023, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que a guerra na Ucrânia só terminará quando a Rússia conseguir “atingir seus objetivos” no conflito, que incluem a “desmilitarização e a desnazificação da Ucrânia”, além de garantias sobre a neutralidade do país opositor na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

As recorrentes negociações de paz do presidente ucraniano também não surtem efeito, e a intervenção da Organização das Nações Unidas parece mínima diante da tragédia. Então, se os líderes estatais não se entendem e os órgãos governamentais não garantem a proteção dos cidadãos, os civis podem ser essenciais no início da revolução da paz.

Para mobilizá-los em meio à brutalidade da guerra, os memes pacíficos são grandes aliados, difundindo uma mensagem inspiradora. Apesar de ser bem mais comum encontrar expressões que destacam diferenças, há exemplos notáveis, que trabalham a diplomacia de forma não usual.

Um exemplo que chama a atenção da imprensa é a atuação do North Atlantic Fellas Organization (NAFO), um movimento digital descentralizado que utiliza avatares engraçados de cachorros da raça Shiba Inu e conteúdo viral para minar a propaganda russa em torno da invasão da Ucrânia. Os voluntários de base da NAFO não têm um comando central, mas sua guerra colaborativa de memes ressoa globalmente. Desde expor mentiras de diplomatas russos até causar impacto no campo de batalha. Os seus membros ajudaram a arrecadar mais de US $250.000 dólares para financiar drones navais e mais de US$420.000 dólares para ajudar na compra de 240 drones de ataque para atingir a Rússia, segundo a AsianTimes.

O coletivo anônimo se destaca, assim como Davi derrubando Golias. Seus triunfos ilustram o incrível alcance do soft power. Enquanto governos investem recursos em narrativas enganosas, o modelo orgânico e colaborativo da NAFO oferece um contrapeso democrático. Sem restrições hierárquicas, esses ativistas digitais se adaptam rapidamente, superando as fábricas de desinformação patrocinadas pelo Estado.

FOTO: Discord / Grupo NAFO

A comunicação civil é crucial para encerrar conflitos, ultrapassando fronteiras geográficas e ideológicas. Vozes individualizadas que se tornam coletivizadas, por meio de ideias expressas em discursos, manifestações e memes, desempenham um papel significativo ao construir pontes entre diversas perspectivas. 

A linguagem única do meme, seja online ou offline, é capaz de instigar reflexões profundas e criticar socialmente de forma acessível. Ao usar esse recurso de maneira construtiva, a sua viralidade pode influenciar a opinião pública, pressionando as partes em conflito a reconsiderarem suas posições. 

A palavra e a criatividade expressas em memes podem promover entendimento mútuo, desafiando estereótipos e estabelecendo um terreno comum para o diálogo. Assim, a expressão civil não apenas incentiva a resolução pacífica de conflitos, mas também contribui para a construção de uma cultura de paz no mundo.

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