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Memes em guerras, guerras de memes;

Curto&Grosso: Os governos estão investindo em memes como arma para influenciar a opinião pública sobre conflitos armados. Usam agências especializadas para criar e disseminar memes virais, buscando promover certa narrativa sobre os eventos. Essa estratégia visa criar coesão interna, desmoralizar o inimigo e relativizar as tragédias da guerra.

As guerras são eventos trágicos que ceifam vidas inocentes. Usar memes para se comunicar sobre conflitos armados pode parecer, no mínimo, um desrespeito. 

Será que chefes de estado investem nesse tipo de comunicação como uma arma? O que acontece quando governos trocam a diplomacia tradicional por memes dos Simpsons, indiretas e emojis? Qual o sentido disso?

O meme como estratégia política

O cientista político e internacionalista Vitor Alves defende que estrategistas governamentais passaram a incorporar memes na comunicação desde que a internet começou a se provar um instrumento fértil para disputas políticas, em meados da década de 2000.

“Como a internet é uma extensão do espaço de discussão social, as batalhas travadas na internet podem escapar para o mundo físico, e vice-versa”, explica Alves.

Parece cômico imaginar um presidente de uma República se reunindo com Ministros e secretários de pastas especiais para decidir qual vai ser o novo meme que pode melhorar a popularidade do governo.

Por mais estranho que seja, isso pode ser uma prática comum — não exatamente dessa forma.

Eu vou xingar muito no Twitter
Foto: iFunny.com

Um caso curioso envolvendo memes e diplomacia aconteceu, em cinco de junho de 2018, após o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, tuitar (ou xuitar?) que Israel é um “tumor cancerígeno maligno”.

A Embaixada Israelense dos Estados Unidos da América não deixou barato, respondendo com um GIF do filme Meninas Malvadas (2004), em que a personagem Regina George pergunta: “Por que você é tão obcecada por mim?”.

 

A relação diplomática entre os dois países é historicamente conflituosa. Eles não mantêm vínculos formais desde a Revolução Islâmica no Irã, em 1979.

O líder do Irã tem uma postura oficialmente hostil em relação a Israel e não parece inteligente uma entidade estatal provocá-lo com deboche e memes.

 

Massacre reduzido a foguetinhos 🚀

O ano era 2021 e diversos episódios chacoalharam o Oriente Médio com o conflito israelo-palestino. O motivo de grande parte da tensão foi gerado por desacordos históricos e disputas territoriais.

Aquela época foi marcada por protestos, tumultos, brutalidades policiais, ataques de foguetes dos grupos Hamas e Jihad Islâmica da Palestina contra Israel, e retaliação com ataques aéreos contra a Faixa de Gaza.

No confronto entre os dois países, registrou-se a morte de um soldado, ferimentos em outros cinco, 12 mortes de civis, com milhares de pessoas feridas em Gaza. Além disso, ocorreram confrontos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia, resultando em mais mortes e feridos.

Com as mortes de palestinos na Faixa de Gaza, o Estado de Israel decidiu zombar dos falecimentos em sua conta oficial no Twitter. Postou, em um fio, 12 vezes emojis de foguetinhos, indiferente às tragédias.

Veja por conta própria:

A Rússia tem mais medo de memes do que armas nucleares

Um governo autoritário como a Rússia teme o humor, assim como tem medo de bombas nucleares. Pelo menos, é o que pensa a equipe de comunicação oficial da Ucrânia.

Em depoimento ao The Washington Post, os trabalhadores por trás do perfil oficial ucraniano no X (Twitter), @Ukraine, explicaram que o humor carrega um extraordinário poder. “Pode ser que não tenhamos armas nucleares, mas temos memes. Chame isso de um ‘memorando de segurança memeal.'”

Com esse pensamento, a conta tem postado memes sobre a situação à medida que ela se desenrola.

Aqui vai alguns exemplos nesta galeria:

 

Explicação: 

(1) – A Lisa Simpsom mostra um banner escrito: “Pare de dizer que há uma ‘crise ucraniana’. Não há crise. Temos apenas um vizinho ruim”.

(2) –  O meme ilustra vários tipos de dor de cabeça, sendo a última, a pior “Viver perto da Rússia”

(3) – Mostra uma ilustração de Adolf Hitler e Vladimir Putin, presidente da Rússia.

(4)- “Se nos invadir você é gay”.

A fantástica fábrica de memes

O internacionalista Vitor Alves alega existirem agências, tanto públicas quanto privadas, que secretamente ou não, têm como função criar peças de desinformação para influenciar a opinião pública em relação a um tema específico.

Essas agências compartilham mensagens virais, transformando-as em memes por meio de contas falsas, visando atingir o maior número possível de pessoas.

“O caso mais notável desse tipo de agência foi o Internet Research Agency, da Rússia, mas também há registros de organizações deste tipo nos Estados Unidos, Israel, Irã e até mesmo no Brasil, com o chamado ‘Gabinete do Ódio’, ativo especialmente durante o governo Jair Bolsonaro (2019-2022)”
Vitor Alves

Além da agência russa citada por Vitor, no país também há o Roskomnadzor, abreviação para Serviço Federal de Supervisão das Comunicações, Tecnologia da Informação e Comunicações de Massa, responsável por supervisionar e regular as atividades relacionadas à mídia, tecnologia da informação e comunicações de massa no país.

Ele desempenha um papel significativo no controle e na implementação das leis relacionadas à internet, proteção de dados, e monitoramento de conteúdo online russo, incluindo a regulação de websites e plataformas digitais.

O órgão também é conhecido por suas ações em relação à censura e restrição de certos conteúdos online na Rússia e sua relação com os memes será explicada ao longo desta série de reportagens.

Por que investir em memes?

Acredita-se que essa estratégia governamental tenha como objetivo alterar a percepção do público sobre eventos tensos, como, por exemplo, uma guerra. Outra possibilidade é que ela seja utilizada para instigar um sentimento de superioridade ao lidar de forma lúdica com assuntos sérios.

Vitor Alves observou que, apesar da escassez de estudos sobre o tema, é possível perceber que órgãos governamentais utilizam memes como uma forma de criar “coesão e dissuasão”, dependendo da situação.

Em resumo, a proposta é utilizar memes como ferramenta para influenciar como as pessoas enxergam eventos específicos, ao mesmo tempo em que servem como meio de desencorajar determinados comportamentos.

Vitor explica que, em caso de vitória em uma batalha, os algoritmos entram em ação, gerando memes que destacam a superioridade das forças armadas, mostrando como “nossos garotos” estão se saindo bem e promovendo a desumanização dos oponentes.

Por outro lado, caso o país esteja enfrentando desafios, Alves destaca que os memes recorrentes enfatizam a alteridade, promovendo a ideia de “nós contra eles” e reforçando a mensagem de que, apesar das dificuldades, pelo menos “nós não somos eles”.

Com essas informações, é nítido que a internet virou um campo de batalha. Meio século se passou desde que Marshall McLuhan, em sua obra famosa Culture Is Our Business, afirmou que a Terceira Guerra Mundial seria uma guerra de guerrilha da informação, sem distinção entre participação militar e civil. 

Esse é o elemento-chave dos memes: como Vitor argumenta, uma das principais características dos memes é que eles são facilmente percebidos pelo sujeito como conteúdo “orgânico”, gerado por civis sem a ambição de mudar a noção dos eventos de guerra.

Acima de tudo, se um meme usa o humor, vale ressaltar que o riso é uma experiência universal e inerentemente humana. Ele conecta pessoas e tem a capacidade de oferecer uma visão leve e irônica das situações. Também, pode desumanizar a dor sofrida pelo próximo e segregar.

4 comentários

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