Vamos mergulhar em uma narrativa marítima repleta de intrigas: o peixe-leão (Pterois volitans), originário da região oceânica do Indo-Pacífico, no outro lado do mundo, decidiu fazer uma tour pelas águas brasileiras. Após estadia no Caribe, está causando um verdadeiro alvoroço desde sua primeira aparição, em 2021, no arquipélago Fernando de Noronha – PE.
Em menos de dois anos, ele ameaça dominar todo o litoral brasileiro, causando preocupação e trazendo impactos até no país vizinho, o Uruguai. O avanço das mudanças climáticas contribui para a sua disseminação e faz dele um hóspede inconveniente que se sente em casa antes mesmo de ser convidado.
Sem ameaças naturais, esse predador se adapta a diversos habitats, depositando até dois milhões de ovos anualmente. Adornando seu corpo, uma linda “juba” de 12 espinhos venenosos, que embora não sejam necessariamente fatais para os humanos, podem causar ferimentos graves e, em casos raros, resultar em morte.
Porém, como essa invasão impacta nossa biodiversidade litorânea?
Imagine que sem predadores naturais, o peixe-leão está diante de um banquete sem fim, ao qual as espécies locais assistem impotentes. Com esse descontrole, a biodiversidade local fica ameaçada e as práticas de pesca ficam prejudicadas. Também, a indústria do turismo enfrenta um desafio inesperado, porque depende da rica fauna marinha e de turistas, que ficariam amedrontados de se banharem, pois os venenosos peixes-leão podem estar em qualquer lugar, já que habitam zonas de 1m a 100m de profundidade.
Eis que surge a seguinte pergunta que assombra as autoridades ambientais: “qual abordagem apropriada para enfrentar esse intruso marinho?”. E eis aqui a solução inusitada: por que não transformá-lo em um prato saboroso no cardápio brasileiro?
Em algumas regiões do Caribe, restaurantes têm apostado nessa ideia, servindo pratos preparados com esse pescado que parece ser a melhor alternativa, como apontam especialistas da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos da América (EUA). Além disso, tal solução pode enriquecer a culinária criativa brasileira, e é recomendada pelo Grupo de Pesquisa, Inovação, Sociedade e Eco-territorialidades (GRIST) dos EUA, mas deve ser pensada com cuidado pelos órgãos públicos para não agravar a situação, incentivando o cultivo do peixe-leão.
Na Flórida, estado costeiro norte-americano, outras soluções vêm sendo implementadas, como a caça esportiva, enquanto a startup Inversa aposta numa alternativa inovadora, usando o couro do peixe-leão na confecção de diversos produtos de vestuário, como bolsas e botas.